Dia 01 - Dor pequena, dor grande ou dor constante?



"Somente mudamos quando a dor de permanecermos iguais for maior que a dor de nos modificarmos"
 Um das primeiras vezes que ouvi isso, foi após uma reunião aberta de Narcóticos Anônimos, um companheiro comentou com essa frase acima o motivo pelo qual ele deixou de usar drogas e decidiu buscar ajuda para se recuperar dos estragos que o uso de drogas havia feito em sua vida.
Um ano depois, e após muita mudança de comportamento superficial, eu me achava uma pessoa que havia feito a "jornada" da mudança. Eu não era mais facilitadora, não me deixava ser manipulada, prestava serviço na irmandade Nar-Anon, exigia responsabilidade, honestidade e impunha limites bem rígidos ao meu familiar adicto, na época meu marido.
Eu achava que o "nosso problema", a adicção ativa, havia sido resolvido, afinal ambos fazíamos uma recuperação exemplar, sim eu achava que ambos fazíamos, mas mesmo assim, mesmo se empenhando tanto nós ainda não conseguíamos viver em harmonia. As coisas nunca estavam boas o suficiente para mim, eu ainda me sentia só e ainda existia um sentimento de abandono enorme dentro de mim.
Sem saber, eu ainda estava cavando o meu poço, ainda vivia em função das alterações de humor de outra pessoa, ainda sentia que o outro era responsável pela minha infelicidade permanente, eu ainda ficava chateada por "ter que ficar" em casa sozinha porque o outro havia marcado um compromisso com seus companheiros de irmandade ou porque decidirá fazer uma viagem em que eu não poderia ir.
Eu ainda ficava chateada por ter feito um jantar especial e o outro nem ligar, nem perceber, e aliás nem jantar, algumas vezes eu tinha vergonha de partilhar no grupo, porque a única coisa que eu pensava era: "Eu, me mato para que ele tenha uma refeição descente antes de ir para a reunião dele, e ele nem liga, chega do serviço correndo, toma um banho e diz que precisa estar mais cedo no grupo por causa de um compromisso que marcou com alguns companheiros, ele me troca e não dá a mínima para a família!!" Eu achava que poderia ser julgada como louca, afinal, eu tentava me convencer de que "Eu não tinha o que reclamar, afinal tenha um familiar com uma recuperação exemplar!".
Eu era uma "mulher Bomba", vivia explodindo, e de forma sempre desastrosa e inexplicável. A última explosão aconteceu alguns dias depois dessa postagem: Só por Hoje... Eu não aceito..., mais uma vez eu tinha passado por um dia difícil no trabalho, havia saído mais cedo, corrido pra casa da minha mãe, pego a bebê, corrido pra casa, colocado as roupas pra lavar correndo, alimentado a cachorra, aliás chutado a cachorra também porque ela havia arrancado um lençol do varal, corrido pra dentro de casa, feito a janta correndo para que pudéssemos jantar os três juntos - eu, a bebê e o marido - ele então chegou, jogou sua mala no chão da cozinha, acendeu um cigarro, subiu pra tomar banho e após quase uma hora, desceu as escadas correndo, procurou a chave do carro, e disse que estava indo pra reunião do grupo de ajuda.
Eu sentada na mesa, com o jantar posto em nossos pratos, peguei o prato que havia feito pra ele jantar e sem dizer uma única palavra, me levantei e joguei a comida e o prato na lixeira. A indignação dele pela minha atitude de jogar um prato de porcelana novo, lixeira abaixo foi o estopim para uma nova discussão. Após minutos de trocas ofensivas de palavras friamente calculadas, ele se calou e entrou no banheiro, na tentativa de acabar com mais uma discussão doentia, eu estava completamente descontrolada, completamente enfurecida e completamente insana.
Atingi o fundo do fundo do meu poço, quando me vi esmurrando a porta do banheiro, gritando insanidades e com a nossa bebê totalmente em pânico no meu colo (o choro e a cara de medo que ela fazia olhando pra mim, até hoje dói demais!), nesse dia, quando eu finalmente parei de esmurrar a porta, o que meu familiar adicto encontrou foi uma mulher totalmente transtornada ajoelhada no chão em frente ao banheiro implorando perdão a uma criança de 01 ano de idade.
Naquele dia, ele amorosamente me levantou do chão, levou nossa bebê para a casa da avó e voltando me levou a um grupo de Nar-Anon, lembro que ao sair do carro para entrar na reunião ele disse que o grupo de ajuda servia para isso, para que eu aprendesse a lidar comigo e não com ele, para que eu evitasse recaídas de comportamento minhas e não as recaídas de uso dele.
Desde então eu aprendi que as mudanças servem muito mais para mim do que para ajudar qualquer outra pessoa, aprendi que os limites que eu devo criar são mim , para aceitar ou não as atitudes do outro, e não para que o outra tenha ou não atitudes que eu acho inaceitáveis.
Hoje quando decido mudar é porque determinada atitude em mim em relação as atitudes dos outros começa a me deixar novamente insatisfeita com os outros. Sinceramente, eu odeio mudar, mas odeio ainda mais me sentir inadequada, raivosa, desmotivada, chateada, incompreendida, responsável pelo outro, enfim eu odeio ter a minha felicidade entregue ás decisões alheias.
Pequenas Mudanças dor Pequena, Grandes Mudanças dor Grande... MUDANÇA NENHUMA DOR CONSTANTE.

______________
"Só mudamos quando a dor de permanecer igual for maior que a dor de mudar"
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  1. Quais sentimentos que eu tenho quando algo não sai como esperei que fosse?
  2. O que está doendo hoje? 
  3. Em que sentido essa dores de hoje tem afetado o meu humor, a minha saúde e a minha rotina?
  4. Estou pronta para ter uma nova perspectiva dos fatos, e novas atitudes em relação ao que me perturba?
  5. Eu aceito que no caso que essa dor não desaparecerá magicamente?
  6. De todas as dores que eu sinto quais eu imagino ser: 
  • uma dor pequena - a qual com pequenas mudanças eu consiga resolver
  • uma dor grande -  a qual eu precisarei fazer grandes mudanças em mim e que possivelmente eu precisarei de um grupo de ajuda, uma terapeuta ou outras pessoas dispostas a me ajudar para resolver
  • uma dor constante - a qual eu ainda consiga suportar, ou a qual a dor ainda não seja maior que o orgulho ou então que eu ainda não aceite que a mudança deva começar por mim.

7 comentários:

··¤(`×[¤Cici¤]×´)¤·· disse...

Pode parecer loucura ou besteira mas para mim é importante dividr essa caminhada com vcs...

1 - Algumas vezes fico apenas um pouco frustada, mas é uma frustação passageira consigo entender que nem tudo é como a gente quer e sim como deve ser, em outras acabo colocando a culpa nos outros por não terem atendido às minhas expectativas, em outras ainda continuo tentando "manipular" fatos, pessoas ou situações para que as coisas saiam como eu planejei.
O que está doendo hoje?
2 - Dói a possibilidade de uma forte recaída do meu ex-marido, dói imaginar que minha filha terá um pai ausente e não um pai herói como eu tenho até hj, dói não poder fazer nada para evitar a queda livre em que meu ex-marido está se envolvendo, dói a insistência dele por uma "nova chance", dói ter que ter calma, dói não ter conhecido determinadas pessoas antes, dói não saber como ser uma mãe perfeita, dói a sensação de eu estar me afastando dos meus amigos por falta de tempo, dói saber que eu não sou tão assertiva quanto eu imaginava ser.
3 - Meu humor está muito alterado, mesmo procurando ficar o mais quieta possível, as vezes minha ansiedade e minha intolerância acabam magoando as pessoas mais próximas e as quais eu mais amo, minha saúde é a que mais tem sido afetada, não consigo seguir a dieta e faz dois meses que não emagreço uma grama sequer, mas o pior tem sido as dores no corpo que tem se tornado constante (por acumular os sentimentos), e ainda pra piorar desmaiei outro dia no hospital.
4 - Opa! Essa é a Idéia!!!rs
5 - Sim, eu desisti de acreditar que mágicas acontecem na recuperação das pessoas, o que acontece que parece magica é planejamento, ação e fé
6 - Pequena : Dor em relação ao modo como trato as pessoas quando não estou bem - eu posso tentar evitar ou passar por cima do orgulho e pedir desculpas, o resto é dor grande... constante é a tal da dor de não ser boa mãe...toda mãe pensa assim, até a minha me disse hj que fica pensando se ela não é ausente comigo!(kkkk eu tenho quase 30 anos, moro sozinha, sou independente, e a vejo pelo menos 4 dias na semana!)

Amo Vcs todos...

Gaby disse...

1-Quais sentimentos que eu tenho quando algo não sai como esperei que fosse?
Dependendo da coisa ainda fico totalmente frustrada, choro, fico triste...

2-O que está doendo hoje?
O que mais me dói hoje é amar e ser amada de forma especial, mas não poder viver esse amor da forma que eu gostaria. É muito, muito triste e injusto.

3-Em que sentido essa dores de hoje tem afetado o meu humor, a minha saúde e a minha rotina?
Lembro que você me contou que travou, pois isso aconteceu comigo no sábado, não cheguei a ir ao hospital mas acordei travadíssima.

4-Estou pronta para ter uma nova perspectiva dos fatos, e novas atitudes em relação ao que me perturba?
Ainda não...mas estou tentando.

5-Eu aceito que no caso que essa dor não desaparecerá magicamente?
Aceito né, fazer oq?

6-De todas as dores que eu sinto quais eu imagino ser:
Infelizmente a constante, mas espero que logo ela se torne pequena...

Ótimooooo trabalho amiga, amo você!!

disse...

Nunca pensei dessa forma, fiquei confusa, não sei se é pq ainda não mudei ou mudei pouco, qndo é para mudar para melhor eu sempre estou disposta... sei lá rsss... Eu acho q não cheguei a explodir com meu amor nenhuma vez, sou calma, paciente, o esquentadinho da relação é meu amor.
Nessa publicação senti que vc tem uma dificuldade em mudar, e eu nunca pensei dessa forma...
Amei o post, me fez refletir nisso.
Beeijão amigaa
Te Amooo

··¤(`×[¤Cici¤]×´)¤·· disse...

Gaby! Legal que vc entrou na onda! Mudar com alguém é sempre mais legal que mudar só! Obrigada!
___
Jé, todos nós tempos dificuldades em mudar, hoje tenho muito menos que ontem, mas hj em dia tenho muito mais dificuldade em mudar as relações antigas, sabe de familia mesmo, ainda tenho dificuldade se ser assertiva por exemplo com meu pai, por isso pouco falo com ele sobre meus problemas, ficamos mais na relação superficial de pai e filha, mas devagarinho a gente muda!rsrs

Registrando a Vida disse...

Oi Cicie
Olha Só
1. frustração é pouco, eu tenho um sentimento de odio incontido, não por as coisas terem saido diferente do que imaginei, ms por eu não aceitar simplesmente.
2. Hoje em especial esta doendo, o terrmino do meu ralcionamento que ococrreu ontem, doi porque eu queria abraça-lo e dizer que vou dar uma basta nas pessoas e ficar com ele, mas não consigo e não é só pelas pessoas.
3. Afetou no sentido do silencio, da recaida sentimental, eu me fechei novamente.
4. Estou pronta para aceitar que a minha fraquesa não vai me permitir ficar com ele, e que isto é um fato sem mudanças.
5. Aceito que vou sofrer, vou chorar, vou ter que ser muito forte para não voltar com ele. mas aceito que a fé e a perseverança estão ao meu lado sem magia nenhuma.
6. Sou uma dor grande, preciso não somente mudar, mas demolir a velha casa a marteladas ( pois vai ser devagar) e preciso de ajuda SOS.

Ameiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
poder essa analise de mim
vou fazer ela constantemente.
Vou começar a me medir
Quero uma melhora Só Por Hoje

Bjoooooos e te amo um muitão

Registrando a Vida disse...

Observação do comentario anterios da questão 4
Não quero mais considerar que é por conta da minha fraquesa, porque os fracos só escolhem a fraquesa, e eu escolhi sofrer pelas mudanças que tenho fazer em mim.

Anônimo disse...

Esse post tá me fazendo refletir muito e vou meditar sobre essas questões até meu cérebro "ferver"... rss...
O mais estranho disso tudo é que quando meu amor estava nos períodos de "relativa" recuperação, a gente não parava de brigar!
Parece que faltava alguma coisa!!
O temperamento dele nunca foi dos melhores... e eu, com minha codependência ativa, ajudava a colocar lenha nas fogueiras.
Quando eu digo que ele entrava em relativa recuperação, digo assim porque, no fundo, nunca vi ele levando a sério a recuperação dele. Ele ficava limpo, ia no N.A., mas não mudava os padrões de comportamento, as ligações com pessoas e lugares da ativa e nunca parou de fumar maconha!
Pra "ajudar" em tudo isso tinha eu e a mãe dele com nossas codependências! Eu já havia aceitado a minha e estava estudando tudo que eu podia a respeito, fiz até um curso de Aconselhamento em D.Q., mas ela sequer lia alguma coisa a respeito de adictos e co.dep.!Não ajudava em nada e ainda me culpava por agir errado com ele. Em parte, ela podia até estar certa, mas eu tava lutando e ela não, portanto não tinha direito de me culpar de nada!
Esse post é excelente e vou analisar minha co.dep. através dele tbém! Tenho certeza que me ajudará demais!
Vejam vcs... sou terapeuta holística e psicoterapeuta, mas acabei parando de trabalhar há meses porque não sinto condições de ajudar ninguém! Estou vivendo literalmente, encostada nos meus pais!
Não dá mais pra ficar assim!
Valeu pelo post e pela dica, Cici!
Beijos!

 

··¤(`×[¤Cicie e Ana¤]×´)¤··

"Insanidade é fazer as mesmas coisas, esperando resultados diferentes." Descobrimos que sozinhas não conseguiríamos, mas que com pessoas que buscam as mesmas vitórias, nos sentimos mais fortes,menos solitárias, e mais conectadas com nosso Poder Superior. Um dia de cada vez a gente junta um ano.

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