E quando eu não me identifico? "Tamu junto?"

N. é uma companheira que tenho uma especial admiração, por um bom tempo na minha recuperação tive dificuldades com essa companheira, eu a julgava por chegar atrasada ás reuniões, por sair várias vezes durante a reunião para atender as ligações de sua filha, por se estender além do tempo em suas partilhas, por partilhar somente sobre a vida do outro e nunca falar de si mesma - SIM, EU ERA UMA JULGADORA! .  Mas ela mudou e eu também!

Uma vez, partilhei com H* a minha dificuldade em manter a mente aberta quando N partilhava, sem contar na dificuldade que tinha em ser amorosa com ela. - H* me falou que talvez minha dificuldade se dava pelo motivo de termos os mesmos defeitos de carácter, pois normalmente aceitamos os nossos defeitos em nós, mas quando eles aparecem nos outros tendemos a julgá-los, ou então o PS estava tentando me dizer algo que eu teimava em não ouvir - "Quando temos dificuldade com determinado companheiro é bom que haja uma aproximação, com certeza teremos algo precioso a aprender."
Na época, não gostei nada de "ter que me aproximar" de N, mas gosto especialmente do jeito que H* toca sua recuperação - quando ele está em recuperação - então decidi tentar, comecei então a frequentar as reuniões no grupo que N também frequentava, era extremamente difícil ouvir sem julgar, porque eu não entendia o que significava : 1- Amor incondicional e 2 - Recuperação Individual.

Lembro como se fosse hoje,  havia partilhado naquele dia a minha dificuldade com uma determinada companheira de outro grupo (anonimato lembra?), como de costume não houve retorno, mas um companheiro pescou no CEFE " Reflexão para hoje: A Aceitação é a maior forma de bondade que eu posso dar. Permitindo aos outros que sejam apenas quem são, sem o meu julgamento se aquilo é bom ou mal, liberta-os e a mim do fardo de tentar mudá-los para atender às minhas expectativas."  - era 4ªfeira e tinha acabado de chegar do Nar-Anon, meu telefone tocou e adivinha quem era?
  • Alternativa A : Era engano....
  • Alternativa B : Era meu marido avisando que estava na casa de H*, partilhando...
  • Alternativa C: Era o Poder Superior ligando para terminar a surra que ele havia começado lá na reunião...
Palmas para quem respondeu "Alternativa C ", Sim! Era exatamente a companheira com a qual eu tinha a maior dificuldade. Atendi o telefone e quando ouvi do outro lado :
- Cicie? É a N. você está ocupada?
"Fala que sim... fala que sim....".... -Não Anjo, pode falar... Está tudo bem???

Ela estava extremamente transtornada, conversamos até as 2:00hs da madrugada, quando ela conseguiu se acalmar. A partir desse dia, me tornei muito amiga de N. e passei a compreender muito mais suas partilhas, consegui quebrar a muralha que havia entre eu e N., na verdade foi ela quem quebrou.
Eu até hoje não sei se N, alguma vez desconfiou da minha dificuldade com ela, ou se algum companheiro que estava naquela 4ªfeira conseguiu "adivinhar" de quem eu estava falando e por isso mesmo passou meu telefone para que N. me ligasse, ou se foi o PS mesmo que fez meu numero aparecer quando N. precisava partilhar com alguém - isso eu nunca vou saber!!! Mas sei que persistir em me aproximar dessa companheira foi uma das coisas mais gratificantes que tive no nar-anon.

N. me ensinou muito sobre o amor incondicional, me ensinou especialmente amor...  amar incondicionalmente o adicto que faz parte da minha familia como eu amo incondicionalmente um companheiro de Nar-Anon.
N. é mãe de uma dep.quimica em recuperação, sua filha é adicta, bipolar e border (boderline) - N. nunca desistiu de sua filha, nunca desistiu da recuperação de sua filha, nunca perdeu a esperança de que sua filha consiga se recuperar das consequências da adicção, das variações de humor da bipolaridade e da tristeza de borderline, mas trabalha o desligamento com amor, ama sua filha e se desliga da doença, das consequências de se viver a doença trás pra vida dela mesma.
N. tem que lutar todo dia contra si mesma para não ser facilitadora, manipuladora, julgadora, vitima ou agressora. Tenho aprendido nesses anos de amizade, a tratar meu familiar como companheiro.

Ela tem um grande amor pela filha, o amor co-sanguineo - afinal "saiu dela", tem um amor doentio também - afinal não deixa de ser co-dependente e assim ter todas as "neuras" típicas da co-dep, mas ela tem  pela filha um amor incondicional: ela não julga e nem condena o passado da filha, não tenta modificar a filha do jeito que ela acha mais conveniente, ela odeia a doença mas ama a filha.
Eu amo N. de uma forma muito especial, de uma forma que ela já me amava quando ingressei, de uma forma incondicional, e é gostoso demais compartilhar da minha recuperação com N, assim como me sinto especial quando N. me abraça ao final das reuniões e sussurra no meu ouvido: "Bons momentos companheira, continua voltando que funciona!".
N. é mãe, N. é também companheira.
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"Você ama incondicionalmente seu familiar adicto da mesma forma que ama seus companheiros de recuperação? Você incentiva seu familiar a buscar ajuda, como incentiva um companheiro N.A ? Você mantém a mente aberta quando ouve seus familiares, adictos ou não, da mesma forma que mantém a mente aberta quando seu padrinho partilha? Você abraça as pessoas de sua casa da mesma maneira que abraça um companheiro? Você ora pelas pessoas da sua familia com o mesmo amor que ora para que sua afilhada pare de sofrer? Você aceita que seja compreensível que seu familiar esteja vivendo na insanidade da mesma forma que faz outra companheira a compreender que o familiar dela está insano? Você trabalha o desligamento com amor - se desligando da doença e não da pessoa -  em relação a seu familiar da mesma forma que trabalha esse desligamento com um companheiro?"

----- O caldo engrossa quando avaliamos nossa recuperação da perspectiva de como está nosso relacionamento com nosso próximo, quando esse próximo é muito próximo né? Eu tenho muita dificuldade, mas só por hoje tento trabalhar esse relacionamento da forma mais amorosa possivel, mesmo sendo ex-marido, esse familiar é conhecido lá em casa como "papai"...e a companheirazinha (que palavra dificil!) que o chama assim: "papai" tem um especial e incondicional amor por esse cara, e eu jamais vou ter o direito de julgar esse sentimento!

2 comentários:

GIULLIANA FISCHER FATIGATTI disse...

Cicie, adorei a postagem, dá para tirar uma excelente lição dessa relato seu, constantemente fazemos isso, julgamos e nos afastamos de pessoas e muitas vezes é justamente porque estamos nos vendo refletidas nelas e ver tal imagem não nos agrada não é mesmo?
Valeu por nos ensinar mais essa amiga!
Adoro vc!
Beijos!

Gaby disse...

Lindo, lindo, lindo, divino!!!
Quantas lições aí escondidas heim...
Obrigada Poder Superior, pela oportunidade de ler textos como o seu e crescer como ser humano!
Te amo gata!!!

 

··¤(`×[¤Cicie e Ana¤]×´)¤··

"Insanidade é fazer as mesmas coisas, esperando resultados diferentes." Descobrimos que sozinhas não conseguiríamos, mas que com pessoas que buscam as mesmas vitórias, nos sentimos mais fortes,menos solitárias, e mais conectadas com nosso Poder Superior. Um dia de cada vez a gente junta um ano.

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