Desde de que me separei tenho sentido um certo desconforto em relação a minha recuperação, tenho me sentido bem, na maior parte do tempo, mas alguma coisa tem me incomodado, mais ou menos como, quando a meia dobra dentro do tênis (rs), sabe?
Você sente um certo desconforto, não que a meia esteja te machucando, nem é algo que te impossibilita de andar, como uma pedra por exemplo, mas é um desconforto que te faz lembrar que tem pé o dia inteiro e que te dá a sensação de que "vai dar bolha!" rs.
Não tenho sentido vontades loucas de ligar pro meu ex, nem estou me sentindo o cocô do cavalo, é algo esquisito, um desconforto...
Então tenho buscado "ajuda", tenho evitado os hábitos que fazem lembrar a fase boa do relacionamento, houve muitas, não posso ser injusta, nem ingrata, mas agora não é hora pra "relembrar", agora é hora de tocar pra frente!
Tento me lembrar todos os dias das coisas que motivaram a nossa separação, pois preciso me convencer de que não mudamos do dia pra noite e que se um dia houver conciliação, esse dia não é amanhã, nem daqui um mês e se bobear nem daqui um ano.
Sabádo decidi que iria me contrariar pelo menos uma vez, e mesmo não tendo vontade, me arrumei e fui no encontro do VAE (vigilantesdaautoestima.zip.net), quem não conhece sugiro ver - não é programa de 12 passos, nem grupo anônimo, é bem diferente e bem parecido, rs....
Eu não queria ir, porque não queria me sentir desconfortável, afinal eu não conhecia ninguém (ô coitadinha!), e nessa hora o que não me falta são justificativas. Mas percebi que todas as vezes que me contrariei eu também me dei bem, assim foi com o Vigilantes do Peso, com o Nar-Anon, com as amizades novas.
A reunião do VAE foi mágica, a Gisela Rao tem o poder de conseguir extrair da gente aquele sentimento desconfortante que "não sei da onde", "nem sei como". Eu estava preocupada em conseguir contar minha história em pouco tempo, afinal não queria que as pessoas pensassem que eu estava ali porque meu ex-marido é um dep. quimico, quem vive no "anonimato" sabe que quando se decidi por viver em recuperação a vida deixa de ser "um fardo" e passa a ser muito boa, resumindo: Eu não me acho a coitadinha por ser uma Nar-Anon, não me acho uma lutadora também por ter sido casado com um adicto, pelo contrario, me sinto uma lutadora por ter conseguido vencer a barreira da minha co-dependência, não sei se todos conseguiram entender, mas parece que Gisela entendeu, Ela perguntou: "E ai??? que tá pegando???" (mais ou menos isso..rs...), diferente de algumas companheiras minha dor não é a vontade de voltar com meu ex.
A verdade é que eu TENHO UM MEDO PAVOROSO DO MEU FUNDO DE POÇO!!(soporhoje2.blogspot.com/.../cortando-ondas-perigosas-tentei.html ) E o desconforto que tenho sentido é exatamente esse, eu tenho andado na beira do poço, e o desconforto é a vertigem de olhar pra baixo, a Gi me perguntou se lá no fundo do meu poço eu tinha encontrado minha mola (http://vigilantesdaautoestima.zip.net/arch2011-01-23_2011-01-29.html - Dia 32), comigo foi um pouco diferente.
Quando cheguei no fundo do meu poço, minha cegueira era tão grande que eu achava que tinha chegado ao fundo do poço do adicto, junto com ele, e por algum tempo, não contente com o fundo do poço, eu continuei cavando, e cavando, tentando encontrar a saída.
Alguns amigos costumam dizer que "No fundo do poço a água é cristalina!", dá pra se salvar! Enchi meu poço de lama, me debati tanto, até quase me afundar completamente na lama, só então percebi que o poço era meu e que meu familiar tinha cavado um poço só dele, e que eu jamais conseguiria tirá-lo de lá, entendi que decidir sair do poço é uma ação individual.
Não achei a mola, mas consegui que muitas cordas fossem jogadas dentro do poço pra eu me agarrar e subir: O Nar-Anon, amigos, alguns familiares, e o VAE. Hoje, não dá mais pra cair de novo no poço, ou pelo menos não dá mais pra cair e voltar a cavar, NÃO DÁ!!!
Hoje tenho a consciência de que eu tenho as ferramentas e o cimento necessário pra construir a tampa do poço, e a opção de retirar a tampa e me jogar lá dentro é minha. Hoje, não dá mais pra dizer que eu não sei o que fazer, ou que eu fui pega de surpresa. È que nem dep. quimico que recaí depois de um longo periodo em recuperação, recai porque quer, porque se não quisesse ia ter evitado, ia buscar as ferramentas. "Recaída faz parte da Doença, não da recuperação".
Alguns dias não serão tão bons quanto outros, mas nos dias em que a tampa estiver rachando posso optar por ir buscar o cimento, não preciso ser sempre forte, basta me contrariar um pouco.
Ps: Continuo com medo de "recair", afinal, é esse sentimento que, só por hoje, me mantém afastada da beira do poço!
5 comentários:
Quem é você ?
O texto me jogou ao passado. Muitas recordações e sentimentos conflitantes... ... Que alivio, alguem lá em cima apontou o dedo pra mim... e como é bom ser eu mesmo outra vez, sou um privilegiado.
Apesar do sofrimento, estar no controle da propria vida é um aprendizado eterno!
Gostei do estilo: verdadeiro, sem enrolação e recheado de puro sentimento - como é bom estar vivo.
Daniel
Li e relí e quando ouço e/ou leio a frase "fundo de poço", verifico quantas vezes estive no que imaginei ser meu fundo de poço e, em todas essas situações eu estava tão mal. Mas o pior é que esses fundos de poços só aumentaram e, hoje, falo deles no plural, o que é muito chato. Relutei, relutei em querer falar e, ainda não estou pronto a revelar o meu último fundo de poço. Na verdade a minha última queda, no poço que alargou-se e aprofundou-se, sem que eu saiba me dizer qual teria sido a razão exata de cada uma das minhas quedas... Seria uma racionalização querer justificar, mas seria me negar se eu disser que não houve uma causa. Sempre há algo...
Li e relí e quando ouço e/ou leio a frase "fundo de poço", verifico quantas vezes estive no que imaginei ser meu fundo de poço e, em todas essas situações eu estava tão mal. Mas o pior é que esses fundos de poços só aumentaram e, hoje, falo deles no plural, o que é muito chato. Relutei, relutei em querer falar e, ainda não estou pronto a revelar o meu último fundo de poço. Na verdade a minha última queda, no poço que alargou-se e aprofundou-se, sem que eu saiba me dizer qual teria sido a razão exata de cada uma das minhas quedas... Seria uma racionalização querer justificar, mas seria me negar se eu disser que não houve uma causa. Sempre há algo...
Freud dizia, mais ou menos assim: aonde o id foi o ego estará. Só posso crer que algo no meu subconsciente, ou no inconsciente, deflagra o gatilho que vai me conduzir ao fundo de poço através da "insanidade" semi-consciente, porque eu (por maior que seja a dosagem e o grau de loucura, a consciência resiste e me avisa o que devo fazer e eu contrario a consciência, ou o super-ego). A droga, associada ao álcool, sempre me leva a situações constrangedoras, que prefiro silenciar, mas um dia, quando as feridas estiverem saradas, irei revelar, sem pejo.Acho que foi o Daniel quem sintetizou o que eu gostaria de escrever e, por isso mesmo, faço minhas as palavras dele. Parabéns pelo que escreve com tanta propriedade.
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